Blogumulus by Roy Tanck and Amanda Fazani

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O fim do começo,

Certo, certo...

Clima de férias após a realização das provas da UFPE, ENEM, e cia LTDA?
Pensando já em 2010 como algo palpável e repetidamente diferente a 2009?
Já programou seus acontecimentos mais remotos e íntimos?
...quantas respostas você daria?


Hein?
=)


E por falar em UFPE, a prova de português 2 trouxe isso de Raquel de Queiroz:

Pergunta-me com muita seriedade uma moça jornalista
qual é o meu maior desejo para o ano de 1950. E a
resposta natural é dizer-lhe que desejo muita paz,
prosperidade pública e particular para todos, saúde e
dinheiro aqui em casa. Que mais há para dizer?
Mas a verdade, a verdade verdadeira que eu falar não
posso, aquilo que representa o real desejo do meu
coração, seria abrir os braços para o mundo, olhar para
ele bem de frente e lhe dizer na cara: Te dana!
Sim, te dana, mundo velho. Ao planeta com todos os seus
homens e bichos, ao continente, ao país, ao Estado, à
cidade, à população, aos parentes, amigos e conhecidos:
danem-se! Vou para longe me esquecer de tudo, vou a
Pasárgada ou a qualquer outro lugar.
Isso eu queria. Chegar junto do homem que eu amo. [...]
Chegar junto ao respeitável público. (...) Chegar junto à
pátria e dizer o mesmo: o doce, o suavíssimo, o libérrimo
Te dana! Dizer Te dana! ao dinheiro, ao bom nome, ao
respeito, à amizade e ao amor. Desprezar parentela,
irmãos, tios, primos e cunhados, desprezar o sangue e os
laços afins, me sentir como filho de oco de pau, sem
compromisso nem afetos.
Mas não faço. Queria tanto, mas não faço. O inquieto
coração que ama e se assusta e se acha responsável
pelo céu e pela terra, o insolente coração não deixa. De
que serve, pois, aspirar à liberdade? O miserável coração
nasceu cativo e só no cativeiro pode viver. O que ele
deseja é mesmo servidão e tranquilidade: quer
reverenciar, quer ajudar, quer vigiar, quer se romper todo.
Tem que espreitar os desejos do amado, e lhe fazer as
vontades, e atormentá-lo com cuidados e bendizer os
seus caprichos, e dessa submissão e cegueira tira sua
única felicidade.
Tem que cuidar do mundo e vigiar o mundo, e gritar os
seus brados de alarme que ninguém escuta e chorar com
antecedência as desgraças previsíveis e carpir junto com
os demais as desgraças acontecidas; não que o mundo
lhe agradeça nem saiba sequer que esse estúpido
coração existe. Mas essa é a outra servidão do amor em
que ele se compraz – o misterioso sentimento de
fraternidade que não acha nenhuma China demasiado
longe, nenhum negro demasiado negro, nenhum ente
demasiado estranho.
(...) E assim, em vez da bela liberdade e da solidão, a
triste alma tem mesmo é que se debater nos cuidados,
vigiar e amar e acompanhar medrosa e impotente a
loucura geral.
(...) Prisão de sete portas, cada uma com sete
fechaduras, trancadas com sete chaves, por que lutar
contra as tuas grades?
O único desabafo é descobrir o mísero coração dentro do
peito, sacudi-lo um pouco e botar na boca toda a
amargura do cativeiro sem remédio, antes de o
apostrofar. Te dana, coração, te dana!

(Rachel de Queiroz. As cem melhores crônicas brasileiras.
Seleção de Joaquim Ferreira dos Santos. São Paulo: Objetiva, p.
74-76. Adaptado.)

Feliz não?
=)