Blogumulus by Roy Tanck and Amanda Fazani

sábado, 5 de setembro de 2009

Grito Silencioso

Sexta feira, Avenida Conde da Boa Vista, 19:04,
temperatura amena.

Após terminar o expediente e atravessar as pontes que dão acesso a avenida, vi um senhor aparentando 30-35 anos, caminhava ao meu lado de forma desesperadora.
Ele gritava, chorava, repetia frases feitas, ajoelhava-se na faixa dos carros, deitava-se, levantava-se, e continuava sua perigrinação.
Eu particularmente [por estar cansado e um pouco com dor de cabeça] não dei atenção, pois imaginei: "É um bêbado pedindo dinheiro para mais cachaça". Então, fui em direção a minha parada.
Quando o senhor chegou perto, percebi que não estava embriagado, e sim desesperado. Sedento e louco por um objetivo: Morrer.
Como eu percebi isso? Quando vi ele se jogando na frente de ônibus e carros.

Os veículos paravam e ele gritava, repetindo as frases do tipo: "Estou pedindo em nome do Cordeiro"²³ / "Quero morrer"²³ / "Ninguém vai ficar sabendo"²³ / "Vamos bater palmas"²³ etc.
Ele abria as portas dos carros e chegou até a entrar em algum deles, depois era expulso...
A partir daí, notei que tratava-se de um caso meio que psiquiátrico. Não sou médico taopouco psicólogo [ainda kkk], mas era claro o distúrbio do indivíduo.
Começei a registrar a cena com meu celular.
Após uma boa caminhada, e incansavelmente repetiu ele os movimentos: ajoelhar, chorar, gritar, cai no chão, tirar as sandálias, calçá-las, caminhar..., seu último destino foi na galeria Empresarial Palmira na Conde da Boa Vista.

O rapaz tentou invadir as lojas mas foi detido por um segurança que o expulsou.

Já são 21:00, eu exausto ainda registrava não só as situações presenciadas pelo senhor, mas também a indiferença dos que o rodeavam.

Nada contra cerveja. Ao contrário.



Mas o que me trouxe náuseas de vômito foi a capacidade de vários grupos lá, digamos...:''cultos'', que não sairam da zona de conforto para fazer algo benéfico por ele. Continuavam tomando 'uma' comendo seu espetinho, e zombando da miséria daquele senhor.
Já naquela hora estava no orelhão para ligar ao 192 [SAMU]. A atendente informou que estavam com muitas ambulâncias nas ruas, sem condições de ajudá-lo. Ela passou para a médica plantonista.



Quando eu contei a situação vejam só como ela respondeu:

Médica: - Mas ele está sentindo alguma dor?
Diego: - Sim, ele não está ferido ainda, mas corre risco de morrer. está quase sendo atropelado, e pelas reações dele, parece que ele seja esquizofrênico, algo do tipo...
Médica: - Como você pode saber que ele está com crise de esquizofrenia?
Diego: ...-Olha...ele tá repedindo várias vezes frases feitas, agresivo, invade os carros e pede ajuda...
Médica: - Você é parente dele?
Diego: - Não.
Médica: - Ligue para a polícia pois ela cuida desse caso
Diego: - Minha senhora, a polícia já solicitou para ligar para o 192 e acionar uma ambulância...
Médica: - Mas não tem ambulâncias aqui. Temos muitos acidentes. Vou registrar a ocorência.
Diego: (Eu já indignado pela forma que a médica falou) - Me diga por gentileza algum protocolo.
Médica: (falando muito rápido e com ironia) - 73873828398237827823793123...
Diego: - Calma senhora...poderia repetir
Médica: (falando mais rápido ainda) 8937897267tq673423...
Diego: - Senhora fale mais devagar pois estou anotando no celular...
Médica: - Ahhh meu filho, já falei duas vezes...No celular? e por que você não ligou do celular...o número que está aparecendo aqui é um fixo. Ahhhh, seiiiiiii....[ironicamente]
Diego: (Como estava registrando fotos, eu fui ao orelhão sem lembrar qu o celular também fazia ligações além de tirar fotos...) - A senhora está pensando que eu estou passando trote é? Quer que eu chame o segurança para confirmar a situação?(nessa hora já tava puto da vida com essa senhora)
Médica: - Então me diga o número do celular
Diego: - Pois não... [dei meu número de celular]
Médica: - Pronto, agora sei seu número.
Diego: - [Muito irado com o atendimento merda da doutora, que não fez porra nenhuma, e sim usar de sagacidade para lidar com a situação] - Tá bom minha senhora, traga uma ambulância urgente.
Médica: (silêncio)
Diego: (silêncio)
Médica: (ela desliga a ligação)

'¬¬

Nessa hora veio uma indignação imeeeensa, uma revolta de toda essa situação ridícula desse sistema público de merda, protocolagem e burocrático. Que doutora mais mau preparada. Não condiz com a graduação tão visada. Muitos analfabetos tratariam bem melhor do que ela.
Já nessa hora, o senhor estava invadindo os carros, caindo no chão e com a boca espumando.
Eu também começei a parar os carros, mas pra socorrer aquele senhor pra um hospital, em plena Conde da Boa Vista.
Ninguém ajudava.
Foi aiiiiiiiii, que apareceu um policial [que participa da banda de música], que veio ajudar
Nessa hora, eu, todo suado e sujo, já tinha perdido as esperanças...
Ele, ligou para o SAMU, reforçou minha solicitação, e disse que realmente era verdade...
Eu e o policial tinhamos que conter o senhor, até a ambulância chegar...

Que chegou. Precisamente 21:47.

Três médicos o pegaram, e levaram a Tamarineira.
Nesse momento, senti um alívio, e uma perocupação, misturado com dever mínimo cumprido.
Lavei [literalmente] as mãos no posto, eu e o policial.
E fui para casa.

Quando deitei, pensei em tudo que ocorrereu. Como sou, insistivelmente crente dos seres humanos menos favorecidos [fisico-psico-economicamente].
E ao mesmo tempo, perco todo o credo aos seres que se acham autosuficientes e pensam:
"O que eu ajudar aquele senhor iria mudar na minha vida?"

Flw.

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